26 de abril de 2024
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Delação

"Efeito cascata" de delações e sentenças é o pior inimigo dos tucanos

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A ordem de prisão do ex-governador Eduardo Azeredo, as delações premiadas e as investigações de denúncias de corrupção - como as que fizeram réu o senador Aécio Neves e indiciaram o ex-governador paulista Geraldo Alckmim - transformaram-se nos mais temíveis adversários do PSDB neste ano eleitoral. 

Os desgastes se acumulam à proporção que se avolumam as notícias e intervenções jurídico-judiciais envolvendo dirigentes e lideranças graduadas do partido. E a pior conseqüência disso para os tucanos é o encolhimento das chances de repetir o êxito de eleições anteriores, quando Aécio chegou ao segundo turno da sucessão presidencial e  perdeu por pouco para a petista Dilma Roussef.

Assim, justifica-se o temor das bases e dos próprios dirigentes de que os incômodos nos grandes estados venham a infectar as candidaturas nos demais estados, sobretudo as que direta ou indiretamente estejam no alvo de denúncias ou investigações. Numa tentativa de evitar que os estigmam sejam colados em seus projetos eleitorais, vários correligionários dos tucanos sob pendência judicial tiram o corpo fora.

Alckmim e o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), ao serem questionados sobre a situação de Aécio após ser declarado réu, saíram pela tangente e lavaram as mãos melhor que Pilatos, fazendo coro recíproco em uma resposta clássica e perversa: a lei é para todos. Se fosse para defender o amigo e correligionário, um inimigo poderia fazer melhor, ainda que o atirasse ao covil dos leões

AZEREDO - Por enquanto, o inferno astral do PSDB se concentra nos grandes estados, sobretudo Minas Gerais e São Paulo. Azeredo, que ficou conhecido com o "pai do Mensalão", teve sua prisão imediata decretada por unanimidade pela 5ª Câmara do Tribunal de Justiça de Minas. Já estava condenado em segunda instância, com pena de 20 anos e um mês de cadeia. O mensalão era um esquema organizado para desviar recursos de estatais mineiras, dinheiro público para bancar a campanha eleitoral em que Azeredo tentou se reeleger governador, em 1998. 

Segundo a PGR, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e o extinto Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) foram algumas das estatais que repassavam o caixa dois. Os repasses criminosos usaram agências de publicidade de Marcos Valério, que também atuou no mensalão do PT, e somaram R$ 3,5 milhões, em valores da época. Na terça-feira, os advogados do ex-governador e ex-deputado informaram que ele se entregaria à Polícia para cumprir a sentença.

ALCKMIN - Mesmo blindado pela ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, que desviou da Lava Jato o inquérito que o investiga por corrupção, o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência da Republica, não pode soltar foguetes. Seu caso, graças à decisão da ministra, desaguou no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, o que lhe dará fôlego para continuar a campanha e ser beneficiado por medidas protelatórias.

O inquérito corria no STJ por conta do foro privilegiado de Alckmin quando estava no cargo de governador. Ao deixar o cargo para habilitar-se no prazo dos pré-candidatos,  perdeu a prerrogativa de foro, o que levou a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo pedir ao STJ "urgência" no envio de seu inquérito para a primeira instância.

 Alckmin é investigado porque ex-executivos da Odebrecht delataram à Lava Jato que  a empresa fez repasses de dinheiro para campanhas do tucano ao governo paulista e que os valores não foram declarados oficialmente na prestação de contas eleitorais. O cunhado de Alckmin, Adhemar César Ribeiro, recebeu parte desse montante em dinheiro, de acordo com os delatores.

AÉCIO - No dia 18 de abril passado, por 5 votos a 0, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou tornar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) réu na ação que o acusa de corrupção e obstrução da Justiça. O ex-presidenciável tucano foi denunciado em junho de 2017 pela Procuradoria-Geral da República, acusado de ter recebido R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, da JBS, como pagamento de propina, e de tentar impedir as investigações da Operação Lava Jato. 

Aécio chegou a ser afastado do Senado por 46 dias, mas, após uma mudança de entendimento do próprio Supremo, foi salvo pelos colegas senadores. Aécio é alvo de outros outros oito inquéritos no STF. Só em delações premiadas da Odebrecht o senador mineiro foi denunciado em cinco inquéritos, três dos quais apuram suspeitas do recebimento de propina por meio de doações eleitorais nas campanhas de 2010 e 2014. 

Duas investigações surgiram com base em delações do ex-senador Delcídio Amaral, uma que envolve Aécio num suposto esquema de propinas em diretorias da estatal Furnas Centrais Elétricas e  outra sobre a suspeita de que o Banco Rural teria prestado informações falsas à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios, omitindo dados para esconder a suposta participação do senador em irregularidades investigadas pela CPMI.

CONTAMINAÇÃO - A cúpula do PSDB está apreensiva com o desfecho de todas essas investigações e do que ainda está por vir, principalmente quando a campanha eleitoral começar com seu ritmo normal, em temperaturas cada diz mais elevadas. Nos estados, o desempenho das pré-candidaturas, especialmente as maoritárias (Governo e Senado), vai depender da força política e eleitoral de cada um e da habilidade para não permitir que seu território de disputa não sofra os desgastes fora de suas fronteiras