16 de abril de 2024
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AQUIDAUANA

Prefeito desconvoca professores, mas nomeia mulher de ex-assessor com alto salário

Cíntia Carla Lemos para o cargo em provimento de comissão de diretora executiva de gabinete, ganhando R$ 8 mil ao mês

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O prefeito Odilon Ribeiro (PSDB) voltou a surpreender negativamente a população de Aquidauana esta semana. Em dois decretos, publicados quase simultaneamente, o gestor tucano deixou evidente a gritante contradição entre intervenções e objetivos do plano de emergência da Prefeitura para fazer o combate e a prevenção ao Covid-19.

No Decreto Municipal 071, Ribeiro antecipou para 4 a 18 deste mês as férias escolares da rede publica, que estavam marcadas para 17 a 31 de julho. E na mesma canetada ele suspendeu por esse período as convocações e os contratos de professores. A decisão foi justificada como medida de austeridade e controle de custeio, atribuída à pandemia do coronavírus, “o que requer a adoção de providências para o quanto mais minimizar seus efeitos e disseminação do vírus perante a população”.

Entretanto, austeridade e controle de custeio não impediram que o Diário Oficial 1425, do dia seguinte, trouxesse várias nomeações para cargos em comissão, preenchidos geralmente por interesse político e sem necessidade de concurso publico. Uma das nomeações, concretizada pelo Decreto Municipal 070/2020, contemplou Cíntia Carla Lemos para o cargo em provimento de comissão de diretora executiva de gabinete, com o símbolo DGA-01. O salário está no patamar dos ganhos dos secretários, os mais altos do Executivo, em torno de R$ 8 mil/mês.

NO OLHO DO FURACÃO

Os professores que perdem 15 dias de salário estão no epicentro do calamitoso furacão social do coronavírus. Sem outra fonte de renda, terão de se virar como podem enquanto esperam a volta das aulas e a possível retomada das contratações. Quatro vereadores – Edinho Grance, Moacir Melo, Aguinaldo da Saúde e Valter Neves – estão cobrando explicações e querem que o prefeito reconsidere a decisão. Denunciam casos dramáticos de famílias de professores que dependem desses salários para as necessidades básicas, principalmente alimentação, contas de água e luz e remédios.  

Os vereadores dizem que exatamente por causa do coronavírus o prefeito deveria ter mantido as contratações, que já estavam pré-fixadas para vigorar até às férias, e não cancelá-las. “É doloroso para centenas de pessoas que ficam privadas de sustentação essencial. E pior ainda porque, confiando na vigência do contrato com vigência até às férias, haviam assumido compromissos com base nos valores que receberiam de seus salários. E agora ficam sem 15 dias de cobertura, com pagamento picado pela metade, uma situação dramática”, comentou Edinho Grance.

A indignação é maior porque, enquanto perdiam aquela que para muitos era a única fonte de renda, os professores atingidos assistiam o prefeito fazendo suas nomeações políticas, como a que investiu Cíntia Carla Lemos num dos mais altos cargos da administração aquidauanense. Cíntia é mulher do ex-vereador e ex-secretário de Governo Wezer Lucarelli, que já não ocupa mais o cargo, mas é considerado ainda o homem-forte do prefeito e seu principal articulador político.

MISTÉRIOS 

Lucarelli carrega em seus ombros um fardo com mistérios que até hoje são alvos de diferentes especulações no município. Segundo vereador mais votado em 2016 e filiado ao PSDB, mal assinou o termo de posse e já pedia licença da Câmara para ser nomeado no salto escalão de Odilon.

Depois de três anos e dois meses dando as cartas e agindo com total liberdade para fazer e desfazer em nome do prefeito, Wezer Lucarelli causou espanto na Câmara quando, no dia 18 de março, a Mesa Diretora leu sua carta de renúncia ao mandato. Alegou ter tomado a decisão porque o Município precisava dele para solucionar graves problemas, sobretudo no setor de saúde. No entanto, semanas depois ele entregava seu pedido de exoneração.

As atitudes de Lucarelli deixaram dúvidas e perguntas no ar. As explicações que ele deu não convenceram. A nove meses de completar o mandato de vereador e com a reeleição praticamente garantida, renuncia ao mandato para continuar na Prefeitura argumentando ter compromisso com a população. E logo em seguida deixa a Prefeitura. Há quem diga que Lucarelli renunciou temendo um processo de cassação, que o tornaria inelegível; e há quem aposte que seu objetivo é preparar o caminho para ser candidato a vice-prefeito na chapa de Odilon.