29 de março de 2024
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SEMELHANTE

Esquema de 'rachadinha' que 'pôde' ser investigado leva a prisão de suspeitos no DF

Esquema evolvia funcionários fantasmas e pagamentos cobrados por pessoas em cargos de confiança

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A Polícia Civil cumpriu quatro mandados de busca e apreensão durante uma operação que investiga nove pessoas envolvidas em esquemas de "rachadinha", prática em que funcionários de gabinetes devolvem parte do salário para o contratante, na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O "pôde" dessa reportagem está relacionado ao esquema semelhante que aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o caso de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na época em que era deputado estadual, de 2003 a 2018. Essa suspeita não pode ser investigada dada a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de suspender as investigações do caso atendendo a pedidos do filho do presidente Jair Bolsonaro.  

No entanto, a Operação Escalada que ocorreu na manhã desta segunda-feira (2) no Plano Piloto em Brasília, por meio da Coordenação Especial de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor/Draco), não é freada e teve sua primeira fase deflagrada em 20 de setembro, cumprindo naquele mês uma prisão temporária e duas de busca e apreensão, expedidas em contra um funcionário de gabinete da ex-deputada Telma Rufino (Pros-DF).   

Na ocasião, a deputada Telma Rufino foi considerada inocente, e foi encontrado e apontado como suspeito um dos seus funcionários, Deivid Lopes Ferreira, que segundo os investigadores, ele se valia do cargo que ocupava e abusou da confiança, praticando crimes de tráfico de influência e falsidade ideológica, entre outros crimes ainda em apuração, de acordo com a Polícia Civil. 

Cinco dias após a prisão, o suspeito foi liberado, exonerado do cargo e agora responde em liberdade, pelos crimes de peculato, associação criminosa, lavagem de dinheiro e concussão. Na operação desta segunda-feira (2), foram recolhidas malas com documentos, boletos e anotações de valores altos na casa de pessoas ligadas ao suspeito. 

De acordo com o delegado com o coordenador da Cecor, delegado Leonardo de Castro, Deivid usava a influência que tinha com os parlamentares para contratar pessoas para cargos comissionados nos gabinetes. Até o momento, foram confirmados os crimes no gabinete da ex-deputada distrital e do deputado Hermeto (MDB).  "Ele tem influência política. Trabalhou para alguns deles durante a campanha e conseguia fazer esse esquema nesses gabinetes. Ainda estamos investigando a participação de outros", afirmou.

O diretor da Draco, Adriano Valente, explicou que o grupo pegava quase o salário todo dos funcionários que aceitavam o esquema. “O cartão bancário das vítimas ficava sob posse do Deivid. Pegamos mensagens de uma funcionária pedindo R$ 200 para comprar remédio. Outra, que tinha tido filho a pouco tempo, pedia o mesmo valor para comprar comida. Ao que tudo indica, o grupo pegava boa parte do salário", ressaltou o delegado.

A suspeita é que o funcionário tenha começado as atividades por indicação do deputado distrital Fernando Fernandes (Pros). A polícia investiga. Por meio de nota a assessoria do parlamentar nega que ele tenha indicado Deivid para o cargo e afirma que não tinha conhecimento da ''rachadinha'' e que nunca pediu ou exigiu valores dos vencimentos de qualquer servidor comissionado. 

Também em nota, o deputado Hermeto (MDB) informou que no gabinete dele não existe rachadinhas. ''Repudio qualquer prática ilegal e espero que as investigações esclareçam os fatos'', diz o texto.

Já a ex-deputada Telma Rufino, suplente de Fernando Fernandes, disse que não se manifestará sobre o caso, tendo em vista que o ex-servidor não figurava entre suas indicações no período em que ocupou a titularidade do mandato, entre janeiro e novembro deste ano.

Entre os investigados estão o Deivid, líder do esquema; três servires da Câmara Legislativa e três pessoas que atuavam fora da casa. Nenhum deles está preso. Leonardo de Castro explicou que por se tratar de um crime sem uso de violência, a Justiça considera que não há motivos para prisão, por enquanto. Os sete responderão em liberdade.

Fonte e parte do texto: *Correio Braziliense por Caroline Cintra.