Iraque, demonstrando ser um país independente, aprovou na sexta-feira (03), por meio de seu parlamento, em Bagdá, a expulsão das forças militares americanas. Isso, após os Estados Unidos de Donald Trump, executar o general iraniano Qassim Suleimani. O militar foi um dos mais poderosos líderes do país vizinho, foi alvo de um míssil americano em um ataque em território iraquiano sem que o governo local fosse sequer avisado. A decisão, agora, cabe ao premiê Adel Abdul Mahdi. “O que aconteceu foi um assassinato político”, afirmou o chefe de Estado.
Segundo os EUA, o general de seria responsável por vários ataques contra soldados americanos ao longo de anos. Antes da decisão do parlamento iraquiano, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, rejeitou a ideia de retirada.
O jornalista e comentarista de política internacional Guga Chacra, em sua coluna no Portal O Globo, reportou: “É um duro revés para Trump e uma vitória estratégica para o Irã. O objetivo nos últimos meses de Suleimani vinha sendo canalizar o sentimento nacionalista do Iraque contra os americanos para que as tropas fossem expulsas. Conseguiu mesmo após a sua morte. A presença dos 5 mil militares é fundamental para a segurança dos interesses americanos no país e também na região. Sem falar na humilhação de levar adiante uma guerra que custou trilhões de dólares e milhares de vidas americanas para ver seu maior adversário sair vencedor. Caso a expulsão americana realmente se concretize, o Irã naturalmente preencherá o espaço em uma vitória geopolítica. Ainda assim, o regime de Teerã terá problemas, já que o nacionalismo iraquiano também se volta contra os iranianos. Outra tendência é o risco do fortalecimento do Estado Islâmico”, avaliou.
A reação política encurrala o governo Trump que em solo está em colapso, encostando-se em um impeachment, de todo, deve também pesar a decisão do Irã após o ocorrido: o país anunciou que não vai mais cumprir o acordo nuclear se os EUA não retirarem as sanções impostas. As medidas foram impostas no ano passado, por atribuir aos iranianos o ataque à instalação de petróleo na Arábia Saudita.
Com bom menino mimado, o líder americano e multimilionário foi às redes sociais massagear seu ego. “Que sirva de AVISO” escreveu usando as capitulares. “Se o Irã atacar americanos, já definimos 52 locais iranianos (representando os 52 reféns mantidos pelo Irã há muitos anos), alguns de nível muito alto & importantes para o Irã & para a cultura iraniana”, disse Trump em sua conta no Twitter.
As Convenções de Genebra e de Haia proíbem terminantemente a escolha de alvos de relevância cultural e, no país, há sítios arqueológicos que remontam ao Império Persa e até bem antes do surgimento das civilizações. Seria um crime de guerra.
O Secretário de Estado Mike Pompeo apareceu nos programas jornalísticos matutinos de domingo das redes NBC, CBS e ABC e, em todas, afirmou que os EUA só escolherão alvos dentro da legalidade.
No entanto Trump reiterou. “Eles podem matar os nossos, podem torturar os nossos, e nós não podemos tocar em seus sítios culturais? Não funciona assim.” De quebra, ameaçou também os iraquianos. “Temos uma base aérea muito cara, lá, custou bilhões de dólares”, afirmou a jornalistas. “Se eles pedirem para que deixemos o país, vamos impor sanções como nunca viram. Vão fazer com que as sanções ao Irã pareçam mansas”, afirmou.
Thomas Friedman, o principal colunista dedicado a política externa nos EUA, qualificou Suleimani como um estrategista ruim. Sob seu comando, o Irã organizou e estruturou uma teia de influência em todo o Oriente Médio, financiando ou mesmo fazendo crescer milícias — em sua maioria xiitas, mas não todas — para favorecer políticos que lhe fossem simpáticos, mas também agravando a instabilidade geral da região. O país dos aiatolás, hoje, tem influência direta nos governos de Líbano, Síria, Iraque e Lêmen. E, para Friedman, o jogo definido pelo general morto foi, em sua eficiência, um desastre. Elevou ao máximo o nível de alerta com o Irã nos países árabes sunitas e em Israel. Por sua vez, estes pressionaram os EUA. Calhou de encontrarem, na Casa Branca, um presidente que estava ansioso para detonar qualquer ação feita pelo governo anterior — o de Barack Obama. O acordo de paz envolvendo energia nuclear com o Irã entrou no Salão Oval e implodiu. Sem amenizar para Trump, Friedman avalia que a agressividade de Suleimani justamente no momento em que o Irã deveria buscar normalização via diplomacia de suas relações, pôs o país no centro do alvo americano.