28 de março de 2024
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VIOLÊNCIA

Policiais são acusados de agredirem família durante confraternização no Ceará

Jovem autista festejava crisma com a família quando foram surpreendidos

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Policiais invadiram a casa onde era comemorada a celebração da crisma de um jovem com transtorno de desenvolvimento grave (autismo) e agrediram as pessoas que estavam no local, em Fortaleza, na noite do sábado (18), denunciam a família e membros da comunidade religiosa. Cinco adolescentes foram levados ao hospital e três foram detidos.Conforme a vítima, que pediu para não ser identificada, o adolescente havia sido crismado naquela noite, em cerimônia em igreja localizada no bairro. 

 Em seguida, familiares e amigos do menino – cerca de 20 pessoas – foram convidados para uma confraternização na casa dele. "Ele tem autismo, então aquele momento era especial para todos nós", disse a testemunha. 

De acordo com o relato, no momento da festa, policiais faziam perseguição a suspeitos em ruas do entorno e um dos supostos criminosos foi capturado em frente a residência onde ocorria o evento. "Depois que eles fizeram a prisão, ficaram dando tiros para cima. O pai do adolescente foi lá perto e disse que não precisava daquilo, que estava ocorrendo uma festa e as crianças estavam assustadas dentro da casa dele", relatou. 

Segundo a testemunha, os policiais chamaram reforço e minutos depois teriam invadido a casa do homem. "A mãe, o pai, o irmão e uma vizinha tentaram proteger o menino, porque ele é autista, mas eles agrediram todos. Quando viram que tinha muita gente, adolescente, criança, usaram spray de pimenta. Pegaram a mãe do menino pelos cabelos e botaram para fora, algemaram o marido dela e colocaram de joelhos na calçada", disse. 

Imagens enviadas ao O POVO Online mostram que o adolescente ficou com o braço enfaixado após a agressão. Uma familiar com cortes e hematomas nos braços e o pai do menino está com ferimentos nos joelhos. Ele teria sido levado à Delegacia, onde assinou Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e foi liberado logo em seguida. 

"Estamos muito assustados aqui, com medo de represália. Ontem a noite alguns policiais passaram aqui na rua e ficamos com muito medo do que pode acontecer. É a quarta vez que acontece coisas desse tipo, só que dessa vez foi muita violência, não pediram documento, não falaram nada, só invadiram e bateram nos meninos", disse a testemunha. 

Em texto publicado em redes sociais, os integrantes do grupo Jovens em Busca de Deus lamentaram a ação. "Aqui no Lagamar criamos o costume de celebrar quando nossos jovens concluem os sacramentos como forma de difundir que os nossos jovens também são vitoriosos e são luzes de amor e esperança, mas esse ano terminamos a crisma no hospital com as jovens que passaram muito mal depois do spray de pimenta que a Polícia jogou nas pessoas dentro da casa do crismado, e outros na delegacia, pois algumas pessoas foram presas por desacato a autoridade", escreveram.

Os participantes denunciam que PMs agrediram todos que estavam na residência no Bairro Aerolândia, em Fortaleza, incluindo o rapaz crismado — Foto: Halisson Ferreira

Para o grupo, a dignidade das pessoas foi violada. "Estávamos todos celebrando a vida de jovens que burlaram as estatísticas de morte e concluíram um sacramento, porém a Polícia com toda a sua agressão acabou tudo, acabou por um momento. Nós não vamos recuar na luta por cada jovem do Lagamar", criticou.

O POVO Online questionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) e a Polícia Militar do Ceará (PM) sobre a conduta dos agentes. Os questionamentos foram enviados na noite de domingo, 19.

A SSPDS informou que a demanda é de responsabilidade da Polícia Militar.

Em nota, a PMCE informou que as pessoas presentes na residência onde a festa estava ocorrendo teriam jogado pedras contra a viatura, que patrulhava pelo local. Segundo a corporação, quatro suspeitos foram encaminhados à Delegacia da região e procedimentos para apurar possível desacato foram instaurados. 

"A PMCE informa que vai investigar a conduta dos policiais militares envolvidos nesse caso, haja vista a informação de que houve excesso durante o atendimento da ocorrência. Vale salientar que a Corporação não compactua com quaisquer tipos de desvios de conduta e garante que ações indevidas são devidamente apuradas e, caso comprovado irregularidades, serão devidamente penalizados", conclui em nota a instituição. 

Já a CGD informou, após a publicação desta matéria, que determinou investigação para identificar os agentes envolvidos no caso. "Ao identificá-los, a Controladoria instaurará o competente procedimento disciplinar para devida apuração da conduta dos policiais na seara administrativa", afirma o órgão em nota.

Atualizada às 14h35 com as notas da CGD e da PMCE.