28 de março de 2024
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ECONOMIA

Apelo da SBPC por integração sustentável é endossada por murtinhenses

Maior evento da ciência em MS reclama cuidados com sustentabilidade no uso da rota bioceânica

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Ainda na passagem dos anos 1970-80, quando em Porto Murtinho a família Santos - do ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos (Zeca), seu irmão, o ex-prefeito Heitor Miranda, e mais tarde um sobrinho, o deputado federal Vander Loubet (PT/MS) - se expunham para resgatar a bandeira da rota bioceânica, acrescentava à ideia o recorte de uma exploração comercial sob padrões efetivos de sustentabilidade humana e ambiental. O apelo encontrou eco em âmbitos locais e nacionais, em diversos ambientes políticos, sociais, profissionais e científicos.

É o que ficou demonstrado durante a realização da 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), com cerca de 15 mil participantes, o maior evento do gênero na América Latina e terceiro mais importante do mundo De 21 a 27 de julho, Campo Grande foi a capital brasileira da ciência e da tecnologia. Na Universidade Federal (UFMS), ambiente qualificado de conhecimentos e experiências inovadoras, a rota bioceânica figurou na grade temática dos debates que provocaram  cientistas, pesquisadores, professores, estudantes, autoridade publicas e dirigentes de organizações não-governamentais – todos efetivamente interessados em dar respostas para os desafios das contradições geradas pelos modelos de progresso no planeta.

Um dos círculos de abordagens mais interessantes foi o encontro em torno do tema “Impactos decorrentes do processo de implantação da Rota de Integração Latino Americana (Rila) – Proposta de intervenção”. O ministro João Carlos Parkinson, do Ministério de Relações Exteriores, conduziu os debates com representantes da Rede Universitária da Rota de Integração Latino-Americana (UniRila). Esta é uma rede de inteligências com as presenças da UFMS, Universidade Estadual (Uems), Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Instituto Federal (IFMS), Grupo Anhanguera e outras seis instituições universitárias do Paraguai, Argentina e Chile.

ECO

As formulações das lideranças murtinhenses - que há cerca de 40 anos já focalizavam a preocupação com os diversos impactos decorrentes da abertura de acessos modais nos intestinos estratégicos da  América do Sul – tiveram eco no conteúdo das manifestações credenciadas que discutiram o tema do encontro na UFMS. Depois de o assessor de Relações Internacionais e Mobilidade Acadêmica da Uems, Ruberval Franco Maciel, relatar o estágio da implantação do Corredor Bioceânico, a professora Luciane Pinho de Almeida, da UCDB, apresentou a frente de trabalho e estudos para avaliar os impactos sociais desse corredor.

Um dos itens predominantes é o impacto social na vida e nas culturas das populações envolvidas. Segundo Luciane Almeida, urge refletir sobre o que pode ser feito em benefício dessas populações, “para que se apropriem das oportunidades que estão surgindo”.  Para ela, a nova realidade que se abre na América é um avanço, mas contém pontos positivos e negativos que precisam ser bem identificados e resolvidos.

O professor Erick Pusck Wilke, coordenador do curso de Turismo da UFMS, discorreu sobre as políticas de exploração turística alinhadas em um trabalho de avaliação na região do Corredor Bioceânico. Nesta agenda está incluída uma expedição de 17 dias até Antofagasta, no Chile. O ministro João Carlos Parkinson reforçou a necessidade de um olhar acurado e cientificamente habilitado para a questão.

“É preciso que haja articulação logística, de diversos modais, capacitação dos jovens para trabalhar num ambiente que não é o seu cotidiano, dominando o espanhol, passando a conhecer outras realidades, práticas aduaneiras de outros países e ampliando as redes de contatos. O grande legado dessa obra é mudar a realidade em muitos aspectos, entre eles o sentimento de pertencimento sul-americano”, disse Parkinson.

NOVA REALIDADE

Segundo Heitor Miranda, o tratamento que a SBPC dá ao assunto é um dos lastros mais vigorosos e qualificados no processo de afirmação dos projetos para a rota bioceânica. Diz ser inegável a essencialidade do fortalecimento da economia latinoamericana, tendo a sustentabilidade humana, cultural e ambiental como bases de sua conceituação. A seu ver, a rota bioceânica é uma realidade que já começa a gerar seus efeitos transformadores nas economias locais, antes mesmo de ser iniciada, entre outras obras e investimentos, a construção da ponte entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, no Paraguai.

“É preciso pensar em todos os contextos. Queremos vitaminar as exportações e as receitas, incentivar a iniciativa privada, gerar empregos. E ao mesmo tempo é possível fazer isso preservando a natureza, com a exploração sustentável dos recurso naturais, o fortalecimento da agricultura familiar, das pequenas economias, da afirmação de nossos valores culturais, de costumes e das etnias que se distribuem ao longo do vasto continente em que vivemos”, enfatizou.  

Com um custo estimado e US$ 7,5 milhões (em torno de R$ 28,05 milhões), a ponte, sobre o rio Paraguai, terá 680 metros de extensão, duas torres com mais de 100 metros de altura e viadutos de 150-metros nas cabeceiras. O vão, de 380 metros de altura e 22 metros de largura, permitirá o tráfego de grandes embarcações pela hidrovia. Com o corredor bioceânico a partir de Porto Murtinho, o Rio Paraguai e as rodovias, hoje, e a ferrovia, amanhã, serão os modais para o transporte de pessoas e produtos até à entrada do aceso ao Pacífico, num itinerário que liga o Brasil aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando pelo Paraguai, Argentina e Peru.