28 de março de 2024
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"BOOM PATRIMONIAL"

PM assessor de Flávio Bolsonaro é suspeito de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa

Ex-assessor teve aumento de mais de mil por cento enquanto trabalhou no gabinete do filho de Bolsonaro

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O policial militar reformado Wellington Sérvulo Romano da Silva, ex-assessor do agora senador Flávio Bolsonato (PSL-RJ), declarou em 2016 ter mais da metade do patrimônio em espécie,e  registrou salto de mais de 1000% (mil por cento), no periodo qye trabalhou como Flávio, na época, deputado estadual, o Ministério Público afirma haver indícios de prática de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa de 2007 até 2018 no gabinete do filho de Jair Bolsonaro, quando ele [Flávio], exerceu por 16 anos de mandato de deputado estadual. 

As informações são da Folha de S. Paulo, que revela que Sérvulo foi um dos 95 alvos de quebras de sigilo fiscal e bancário autorizadas pela justiça fluminense. Na ocasião, foi descoberta o crescimento desmedido do patrimônio do ex-assessor. Flávio Bolsonaro e seu também ex-assessor Fabrício de Queiroz, são alvos nas investigações. 

A suspeita criou corpo após a movimentação de dinheiro vivo indentificada entre os assessores do Flávio Bolsonaro.  

À epoca, Sérvulo ficou junto a Flávio de abril de 2015 até setembro de 2016, quando foi demitido. Antes, era parte da vice-liderança do PP. 

No periodo que trabalhou com Flávio, segundo a Receita Federal, Sérvulo saltou da casa dos aproximados R$ 9,2 mil em patrimônio, para R$103,2 mil em 2016. Chegou a declarar R$ 55 mil em dinheiro vivo. 

Em 2014, ele havia declarado um patrimônio de R$ 83.265,92, sendo R$ 50.407 referente a um veículo vendido naquele ano. No ano anterior, o patrimônio do PM era de R$ 89.928. Nestes dois anos, ele declarou ter R$ 15 mil em espécie, valor que não apareceu no Imposto de Renda de 2015.

Segundo os documentos obtidos pela Folha, o ex-assessor de Flávio teve rendimento de R$ 285,9 mil em 2016. A maior parte refere-se ao salário da PM (R$ 239,4 mil), que se somou aos vencimentos da Assembleia (R$ 46,5 mil).

De acordo com o Ministério Público, o PM reformado também é suspeito de ser um funcionário fantasma de Flávio. Ele esteve por 226 dias no exterior no período em que esteve lotado no gabinete do então deputado estadual, quase metade do intervalo.

Segundo os promotores envolvidos no caso, há indícios de que os funcionários fantasmas eram uma forma de ampliar o desvio das remunerações do gabinete de Flávio.

Sérvulo já era alvo do Ministério Público desde a produção do relatório do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão nas contas de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

No documento, o tenente-coronel reformado aparece como sendo o responsável pela transferência de R$ 1.500. Em razão disso, Sérvulo foi notificado para depor no Ministério Público. Assim como Queiroz, ele não se apresentou na data marcada.

[Ex-assessor Fabrício de Queiroz]

Além do volume movimentado por Queiroz, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: saques e depósitos em dinheiro vivo. As transações ocorriam em data próxima do pagamento de servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Pivô da investigação contra Flávio, Queiroz reconheceu ter recolhido parte do salário de servidores do gabinete do então deputado estadual Flávio, de 2007 a 2018, na Assembleia. O objetivo, disse ele, era contratar assessores informais para o então deputado e ampliar a base eleitoral do filho do presidente da República.

Flávio já tentou por três vezes bloquear as investigações na Justiça. Teve duas derrotas no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal de Justiça, e aguarda a análise de outro habeas corpus sob relatoria do desembargador Antônio Amado.

O magistrado já negou na semana passada liminar solicitada por Queiroz para anular a decisão que deferiu as quebras de sigilos dos investigados. Ainda não analisou o pedido do senador. Os dois casos serão analisados pela 3ª Câmara Criminal do TJ-RJ.

OUTRO LADO

Sérvulo afirmou que todas as informações sobre seu patrimônio constam das declarações de Imposto de Renda feitas à Receita Federal, "o que demonstra que eu nada tinha e nada tenho a esconder”.

“Quaisquer outras informações somente serão prestadas por mim às autoridades competentes, se e quando forem necessárias”, afirmou o PM reformado.

Em nota, Flávio Bolsonaro afirmou que “as declarações de Imposto de Renda do ex-servidor Wellington Sérvulo são de responsabilidade dele e somente ele pode explicar sua evolução patrimonial”.

“Todos os mandatos na Alerj foram pautados pela legalidade e defesa dos interesses da população. Tentar ligar a esses mandatos supostas ações irregulares e cometidas por terceiros não passa de erro ou ilação fantasiosa", disse.

"O senador Flávio Bolsonaro afirma que continua a enfrentar uma campanha caluniosa e acredita que vencerá as injustiças contra ele. Parte dessa perseguição é baseada em falhas e erros que, aos poucos, têm sido expostos. Ele acredita que a verdade prevalecerá”, completou o senador, em nota.

QUESTÕES AINDA SEM RESPOSTA NO CASO QUEIROZ

Quem eram os assessores informais que Queiroz afirma ter remunerado com o salário de outros funcionários do gabinete de Flávio?

Por que o único assessor que prestou depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro não confirmou esta versão de Queiroz?

Como Flávio desconhecia as atividades de um dos seus principais assessores por dez anos?
Se Flávio possui apenas uma empresa que foi aberta em seu nome, em 2015, como ele obteve R$ 4,2 milhões para comprar dois imóveis de 2012 a 2014?

Por qual motivo Jair Bolsonaro emprestou dinheiro a alguém que costumava movimentar centenas de milhares de reais?

De que forma foi feito esse empréstimo pelo presidente e onde está o comprovante da transação? 
Onde estão os comprovantes da venda e compra de carros alegadas por Queiroz?
Por que há divergência entre as datas do sinal descrita na escritura de permuta de imóveis com o atleta Fábio Guerra e as de depósito em espécie fracionado na conta de Flávio?

INCONSISTÊNCIAS NO PEDIDO DO MP-RJ

Pessoas não nomeadas por Flávio Bolsonaro

Há três casos de pessoas sem vínculo político com Flávio Bolsonaro que foram alvo de quebra de sigilo. Elas estavam nomeadas no gabinete da liderança do PSL na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro quando o senador assumiu o cargo e, em seguida, as demitiu

REMUNERAÇÃO DE QUEIROZ

Ao comparar gastos com vencimentos de Fabrício Queiroz, o Ministério Público considera apenas salário da Assembleia e ignora remuneração que ele recebe da Polícia Militar

SAQUES 

Há erro na indicação do volume de saques feitos por Queiroz em dois dos três períodos apontados

LARANJA POTENCIAL 

Promotoria atribui ao gabinete de Flávio servidora da TV Alerj que acumulava cargo com outro emprego externo

PATRIMÔNIO

Ao falar sobre um negócio que envolve 12 salas comerciais, os promotores do Ministério Público do Rio escreveram que Flávio adquiriu os imóveis por mais de R$ 2,6 milhões, quando, na verdade, ele deteve apenas os direitos sobre os imóveis, que ainda não estavam quitados e continuaram sendo pagos em prestações por outra empresa que assumiu a dívida.

Fonte: Folha de S. Paulo