29 de março de 2024
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Justificando

Lula e as encruzilhadas da democracia

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O lançamento da pré candidatura de Lula no último dia 08 de junho em Minas Gerais representou um xeque mate na direita brasileira. Reunindo dezenas de deputados e senadores, centenas de militantes dos movimentos sociais e cinco governadores de estado o PT reafirmou sua decisão de manter Lula candidato e prometeu rodar o país com lançamentos locais, atos públicos e plenárias para elaboração do seu programa de governo

O anúncio agitou a cena política nacional. Na esquerda, generalizou-se a comoção com a volta da esperança – anunciada num vídeo que rapidamente se espalhou pelas redes sociaisarrancando lágrimas de petistas e aliados e propalando que “chama que o homem dá jeito.

Na direita, agudizou-se a crise.Neste cenário, a centro direita está tendo que escolher entre defender o legado de Temer com recessão econômica; ataque a direitos sociais; sucessivos casos de corrupção ou seguir Bolsonaro com sua agenda autoritária e violenta.

 O centro da política (seja lá o que isso signifique) segue sem um candidato que o represente como demonstrou o Manifesto lançado na última terça (05) por políticos como o habilidoso ex presidente FHC.

Para as três hipóteses do centro àextrema direta – Alckmin, Meireles ou Bolsonaro – a manutenção da candidatura de Lula é um balde de água fria.

Preso ou solto Lula segue sendo o maior ativo político da eleição e com isso puxa para esquerda o pêndulo do debate e da opinião popular. Com a candidatura homologada Luiz Inácio ganharia a eleição em qualquer cenário e, no caso de indeferimento do seu pedido, Lula põe o sistema político numa encruzilhada e ainda transfere seu potencial eleitoral para um dos vários nomes do PT o que provavelmente colocará o partido no segundo turno com grandes chances de obter bons resultado.

E o que ocorrerá com a legitimidade de um pleito eleitoral em que o preferido nas pesquisas está preso sob a custódia de um aparato de perseguição política? Como poderá ser validado um processo eleitoral em que está se vetando a participação do preferido pelo povo sem que haja qualquer prova cabal de que houve corrupção?Mesmo preso, Lula cresceu nas pesquisas, manteve em torno de si as principais lideranças da esquerda brasileira, deslocou para perto de si líderes importantes do centro como Renan Calheiros e dirigiu o lançamento da sua candidatura ainda que privado da liberdade em Curitiba. Diferentemente do que previam os protagonistas da Lava Jato a prisão de Lula não foi o ato final de sua carreira política, pelo contrário, Lula saiu do Sindicato dos Metalúrgicos nos braços do povo e segue mobilizando caravanas de apoio em todo o Brasil.

Se a esquerda se mantiver unida (mesmo que em diferentes candidaturas) e engajada na formulação de um projeto para o Brasil são grandes as chances de assistirmos a uma derrota das forças políticas da direita. O produto desta articulação está em disputa, porém, é fato que a resiliência de Lula (e do PT) não estava nos planos de quem arquitetou, mobilizou e executou o golpe. Vejamos por quanto tempo as grades de uma cela em Curitiba conseguirão deter Lula da Silva– que hoje parece representar a esperança e o desejo de mudança do povo brasileiro.

Felipe da Silva Freitas é doutorando em direito pela Universidade de Brasília e membro do Grupo de Pesquisa em Criminologia da Universidade Estadual de Feira de Santana.