29 de março de 2024
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Eleições 2018

Com ato de sábado, Puccinelli ampliou motivações de campanha

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Para ter uma medida minimamente fiel do ânimo com que o MDB se lança na corrida sucessória em Mato Grosso do Sul, quem foi ao ato de sábado passado na sede-campo da Associação Nipo-Brasileira teve a chance ideal. 

Não seria necessário ouvir todos os dirigentes dos mais de dez partidos que se adiantam na composição com o MDB para a disputa - bastaria prestar atenção em itens pontuais contidos nas declarações de alguns interlocutores decisivos, como o ex-ministro da Economia, Henrique Meirelles; o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM); e o próprio ex-governador e pré-candidato André Puccinelli.

Meirelles pos na superfície do pronunciamento a recuperação da economia com a retomada do desenvolvimento, seu bem-sucedido cartão de visitas para servir de opção ao MDB na corrida presidencial. E fez a associação entre esse desempenho e o apelo da pré-campanha de Puccinelli, cristalizado no mote "MS Maior e Melhor", que é um projeto criado pelo partido com o objetivo de ouvir suas bases e defender temas programáticos em todas as regiões do Estado.

A chamada desenvolvimentista é uma das diversas motivações que, com inteligência e criatividade, Puccinelli vem semeando para aquecer a militância, atrair apoios e abrir caminhos até outubro. À fala de Meireles junta-se a incisiva avaliação de Mandetta, uma das impotants expressões nacionais do Democratas. Ele acrescentou ao perfil do desenvolvimentismo o recorte da segurança, estribada na experiência e na "grande afinidade" entre o DEM e Puccinelli. 

Estas entrelinhas denotam que tantas motivações explicam o fato de, ainda em fase de pré-campanha, a pré-candidatura de Puccinelli contar com ao menos nove partidos no arco de alianças: PHS, PTC, PEN, PR, PRTB, PMB, PSDC, PMN e Avante. Ainda não entram nessa conta outras legendas que dependem de definições internas, mas já estão em compasso de negociações, entre elas o DEM e o Pros.

TIME E ENVOLVIMENTO - À medida que avança o calendário eleitoral e encurta o prazo para a definição de candidaturas e coligações, os partidos com melhor índice nas pesquisas de intenção de voto para Governo e Senado sabem ser necessário ter forças coesas e comprometidas. A disputa que se desenha será das mais acirradas e algumas condições tradicionais serão decisivas para alcançar o resultado final, como a auto-estima partidária, o envolvimento da militância e dos aliados e a capacidade de manter as antigas motivações e criar novas, como o MDB de Puccinelli vem fazendo.

Quando discursou na Nipo-Brasileira - foram cerca de 20 minutos - o ex-governador assumiu um compromisso que poderia ser apenas protocolar, à primeira vista. Mas não era. Ao afirmar que, se eleito. Vai manter no máximo quatro dos 14 secretários de seus dois primeiros governos, Puccinelli não se encontrava no estreito corredor da promessa formal para agradar a platéia. Ele fez a leitura da dinâmica de identificação que tem com a sociedade em tempos distintos.

Para um homem publico que em toda sua trajetória teve e manteve um time, esse não é um rompimento corriqueiro. É uma decisão que, na gestão do poder, se ajusta à necessidade do tempo que vive o governante, um tempo que só se concebe vivendo o amanhã e não há avanço quando se permite fazer do presente o passado, 

O discurso de Puccinelli pode ter sido pensado para atender às expectativas imediatistas das bases, mas foi encaixado no compartimento estratégico das cabeças que decidem, sobretudo dos dirigentes e líderes partidários que se preocupam com o amanhã de suas cidades e de seus liderados. A fala desafiadora de Puccinelli, que veio no traço emocionado da afirmação "sou ficha limpa", pode ter sido a senha para que a campanha dele respira vida própria nas motivações dos que o  apóiam.

O ato da Nipo-Brasileira foi o último a que Henrique Meireles compareceu antes do anúncio oficial de seu nome como opção do MDB para a sucessão presidencial. Aguarda-se para esta terça-feira que o presidente Michel Temer descarte de uma vez a hipótese de ser candidato e coloque à disposição o nome de seu ex-ministro, tendo como credenciais os números favoráveis da política econômica adotada há dois anos.