28 de março de 2024
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Após negar Fundo bilionário, Bolsonaro terá que pedir dinheiro à ONU e explicar declarações

Após recusar Fundo Amazônico bilionário, por briga juvenil, Bolsonaro vai à COP-25 pedir cem bilhões de dólares

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O Governo brasileiro, de Jair Bolsonaro, terá que se explicar sobre as práticas contra o clima na Conferência das Nações sobre a Mudança do Clima, as COP-25. Essa é a primeira vez que o Brasil chega na defensiva no evento que teve início nessa manhã (02) e segue até dia 13 de dezembro, em Madri, na Espanha. 

O COP-25 reúne Líderes políticos, diplomatas ligados ao clima, especialistas e ativistas nas próximas duas semanas na Espanha para discutir as mudanças climáticas sob um senso crescente de urgência.

Brasil sempre foi destaque e exemplo no evento como um dos principais defensores da natureza, no entanto, dessa vez terá que se explicar sobre o aumento em 29,5% do desmatamento da Amazônia, em apenas 1 ano do governo bolsonarista. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de 1º de agosto do ano passado [início da campanha] até 31 de julho deste ano, o desmatamento atingiu a marca de 9.762 km² (nove mil, setecentos e sessenta e dois, quilômetros quadrados).

Bolsonaro criou polêmicas com ambientalistas e chefes de Estado ainda em sua campanha eleitoral de 2018.

Depois de eleito, enviou ao Congresso medida para fundir a pasta do Meio Ambiente com a Agricultura — mas a proposta foi rejeitada. Mesmo assim, alterações na estrutura do órgão fizeram com que o Meio Ambiente perdesse quase 20% de seus analistas. Já no  Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), os sinais emitidos por Brasília e a falta de dirigentes nas unidades do órgão fizeram com que o número de multas caísse apesar do aumento do desmatamento.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Foto: AFP / EVARISTO SA

Além dos números negativos, o Brasil será cobrado pelo discurso oficial de relativizar a questão ambiental, ressaltada na desistência do país de sediar a COP-25, ainda na transição do governo no ano passado. Falas polêmicas do então presidente, Jair Bolsonaro, questionando dados científicos de desmatamentos agora confirmados, atenuaram a dificuldade e ofuscaram ainda a mais com é visto o Brasil pelo resto do mundo.

Contudo, segundo o porta-voz do governo, Otávio Rêgo Barros, Bolsonaro deve pedir ajuda para proteger a Amazônia durante esse evento. Toda a dificuldade estará nas mãos do presidente, que terá de explicar por que quer ajuda agora se anteriormente recusou o bilionário Fundo Amazônia, que recebia aportes de países como a Noruega e Alemanha. O Fundo Amazônia, criado em 2008, aplicou R$ 3,2 bilhões do governo norueguês, e a Alemanha doou outros R$ 200 milhões.

O governo brasileiro quer uma parcela do financiamento de US$ 100 bilhões (R$ 422.933.115.527,72) anuais da ONU para distribuir em 2020 entre as nações em desenvolvimento que apresentarem políticas climáticas consistentes.

Ao mesmo tempo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem cobrado recursos do chamado “mercado de carbono”, que é a contabilidade das emissões de CO2 entre os países.

O país passaria a ter crédito com a redução da emissão de gases do efeito estufa de países que não conseguem atingir as metas. Ao mesmo tempo, empresas mais poluentes podem comprar esses créditos de países com baixa emissão de carbono. Mas para isso, o Brasil precisa fazer o dever de casa.

A COP25 será a primeira a acontecer depois da disseminação global das greves climáticas inspiradas na ativista sueca Greta Thunberg. E também o COP25 será liderado por três mulheres: a ministra espanhola Teresa Ribera, a presidente da conferência Carolina Schmidt e a chefe da ONU para o Clima, Patricia Espinosa. Foto: COP25

Esse encontro, hoje, em Madri, é o início de 12 meses de intensas negociações que resultarão na COP-26, prevista para acontecer em Glasgow, cidade escocesa, em novembro de 2020. 

ALERTA 

Um relatório da organização não governamental Save The Children divulgado às vésperas do evento busca dar contornos reais e imediatos à crise climática.

Conforme a ONG, as mudanças em curso no clima do planeta levaram hoje à fome de 33 milhões de pessoas na África, sendo a metade delas crianças. A Save The Children afirma que ciclones, deslizamentos, inundações e secas elevam a insegurança alimentar a níveis alarmantes.

Para o secretário-geral da ONU,  António Guterres, líderes políticos precisam dar uma resposta à iminente crise climática.

"Os próximos 12 meses serão cruciais, e é fundamental garantir compromissos nacionais mais ambiciosos, particularmente dos maiores emissores, que comecem imediatamente a reduzir de forma consistente os gases do efeito estufa até alcançarmos uma neutralidade do carbono até 2050", afirmou.

ATÉ DICAPRIO 

Web fez meme com Leonardo DiCaprio após Bolsonaro citar ator como um dos culpados por incentivar as queimadas na Amazônia. Foto: Reprodução/TV Globo.  

A polêmica mais recente foi a possibilidade aventada pelo governo de exportar madeira in natura da Amazônia, o que é proibido desde 1983, com exceção de uma única espécie.

Bolsonaro também se envolveu em polêmica com o ator americano Leonardo DiCaprio, na semana passada. O presidente acusou o ator de colaborar com queimadas criminosas na Amazônia, por meio de doações à WWF, ONG que atua na área ambiental. Em nota, DiCaprio negou ter feito doações a ONGs citadas em investigações sobre incêndios florestais no Brasil. A internet reagiu ao ataque feito por Bolsonaro criando memes irônicos em alusão a fala do presidente brasileiro. 

"Uma ONG ali pagou R$ 70 mil por uma foto fabricada de queimada", disse o presidente sem citar nomes.

"O que é mais fácil? 'Toca' fogo no mato. Tira foto, filma, manda para a ONG, a ONG divulga, entra em contato com o Leonardo DiCaprio e o Leonardo DiCaprio doa US$ 500 mil para essa ONG. Leonardo DiCaprio, você está colaborando com as queimadas na Amazônia", completou Bolsonaro.

Fãs brasileiros do ator usaram as redes sociais para ironizar a fala do presidente, veja algumas postagens feitas por meio de twitteres:  

 

DADOS OFICIAIS 

Dados do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces) apontam que o Brasil tem a maior extensão de florestas tropicais e a segunda maior cobertura florestal do mundo, uma área equivalente a 516 milhões de hectares (Mha). Desse total, 56% (290 Mha) são florestas públicas e menos de 7% (34 Mha) destinados à produção florestal. O país também é o terceiro maior produtor de madeira no mundo, com produção total estimada em 30 milhões de metros cúbicos (m3) de tora, sendo que a região amazônica concentra a produção de madeira nativa, ao passo que a produção proveniente de plantações ocorre no Sudeste e no Sul.

No entanto, segundo a diretora executiva do Conselho de Gestão Florestal (FSC) (Forest Stewardship Council na sigla em inglês), Aline Tristão Bernardes, apenas 1,2 Mha está sob concessão, onde o manejo sustentável garante um desmatamento responsável e agregação de valor à cadeia da madeira. “O sistema é de baixo impacto e tem certificação. Os mecanismos existem, mas precisam ser implementados e respeitados”, disse ao Correio Braziliense.

*Com G1 e BBC.